Se tratarmos o Brasil como sendo uma empresa seria mais fácil interpretarmos e entendermos sua performance financeira e econômica.
Os Analistas Financeiros estão acostumados a fazer análises através do Balanços (BP), Demonstração de Resultado (DRE), Fluxo de Caixa (FC) e outros demonstrativos, de onde retiram índices e indicadores de desempenho.
Os valores dos vários conceitos de Produto, Renda e Dispêndio Nacionais, são estimados através de um sistema onde se registra e contabiliza a nível macroeconômico. Registra-se as principais transações realizadas entre agentes econômicos – famílias, empresas e governo – dentro do Brasil e com o resto do mundo.
Sistema de Contas Nacionais (SCN), incorporou os principais conteúdos recomendados por um conjunto de organismos internacionais liderados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e adotada por muitos países. A estrutura, os principais conceitos e ferramentas do sistema, bem como o histórico de sua implantação e evolução no Brasil, que tem origem em meados do século passado.
A referência ideal para o conhecimento da estrutura detalhada bem como da totalidade dos conceitos utilizados no SCN é o próprio SNA (System of National Account) – 2008. Para o caso específico das contas nacionais brasileiras a referência primordial é o relatório metodológico IBGE (2008).
O SCN se baseia em cinco contas fundamentais:
1 – Conta de Produção;
2 – Conta de Apropriação;
3 – Conta Corrente do Governo;
4 – Conta Consolidada de Capital (FBKF);
5 – Conta das Transações com o Exterior.
Esquematicamente temos as seguintes informações por conta (Quadro 1)
Quadro 1 – Montagem do autor
A partir destas informações podemos construir demonstrativos para analisar as tendências macroeconômicas.
Infelizmente o IBGE divulga os dados com um espaço de tempo não muito curto.
Como exemplo se olharmos apenas a Conta do Governo (3 no quadro acima) e desmembrarmos, temos o Quadro 2, onde se verifica a origem e a aplicação de recursos no âmbito federal, estadual e municipal. Nota-se que as contas da área municipal são as piores e o mais importante os investimentos estão baixíssimos.
Quadro 2 – Fonte: Folha de São Paulo; pag. A27 de 11/08/2019
Analisando a Conta Investimento (4 no Quadro 1 acima), podemos reescrever a relação entre a poupança nacional e o investimento pela equação:
{\displaystyle \operatorname {{\text{S}}+({\text{T}}-{\text{G}})} ={\text{I}}+{\text{NX}}}S + (T-G) = I + NX
S1= poupança privada – empresas não financeiras
S2= poupança privada – famílias
T= receita tributária
G= gastos do governo
I= investimento
NX = exportações líquidas
Em percentual do PIB temos o seguinte resultado (Quadro 3):
Quadro 3
A poupança total do País está em torno de 15,19% do PIB e doméstica está em torno de 14,26%, sendo a poupança do governo, no passado recente, nula ou até negativa.
Os níveis baixos de poupança interna brasileira limitam a capacidade do País de manter taxas elevadas de investimento e criar um ambiente favorável ao crescimento econômico sustentável.
Na realidade nesse cenário dependemos de capital externo para crescermos, ou seja, o Banco Central do Brasil (BACEN) tem que dosar bem sua política de juros para atrair este capital necessário para o investimento.
No IBEF NEWS • Janeiro 2011(No. 172) havia escrito:
“O Brasil tem uma poupança bastante baixa para a estrutura etária jovem. Isso poderá ser um empecilho para o crescimento de longo prazo. Para atenuar o problema, é preciso agir em várias frentes: (i) realocar os gastos do governo para investimentos criando regras que permitam promover um ajuste fiscal mais forte e estrutural; (ii) ampliar o investimento público em infraestrutura e conceder serviços à iniciativa privada; (iii) promover micro reformas que facilitem a vida das empresas; (iv) apoiar a pesquisa inovadora; e (v) aperfeiçoar o mercado de capitais de modo a desenvolver financiamento de longo prazo. É um longo caminho, mas crucial na agenda de desenvolvimento. “O item (i) está sendo resolvido em parte com a reforma da previdência, o item (ii) está em andamento tendo iniciado com a Petrobrás Distribuidora, o item (iii) está também sendo debatido no Congresso, restam o itens (iv) e (v) para o Brasil ter uma governança digna de ser o Brasil.
Para mais artigos sobre Economia clique aqui.