A construção de data centers no Brasil está em forte expansão, impulsionada pela inteligência artificial e pela crescente demanda por armazenamento de dados, com investimentos significativos previstos.
A infraestrutura de um data center consome energia não só pelos servidores (CPUs, GPUs, armazenamento, rede), mas também por sistemas de refrigeração, energia de backup, ventilação, sistemas auxiliares etc. Essas partes “invisíveis”.
Podemos dividir o consumo em três grandes blocos físicos: TI (servidores), Infraestrutura elétrica, infraestrutura térmica (resfriamento) muitas vezes representam uma parcela significativa do consumo total.
A camada de TI transforma eletricidade em processamento, armazenamento e transmissão de dados — é a parte “produtiva” do consumo.
Com o crescimento da demanda por serviços digitais — cloud, vídeo, streaming, IA, big data — o volume de processamento e armazenamento cresce de forma acelerada. Apesar de ganhos de eficiência (hardware mais eficiente, melhores práticas de refrigeração, consolidação de servidores, migração para nuvem etc.), o aumento da demanda muitas vezes supera os avanços de eficiência.
A chegada da Inteligência Artificial (IA), com seus modelos de grande porte e necessidade de muito processamento, tende a elevar substancialmente a demanda energética. Em estimativas recentes da Goldman Sachs, a demanda por energia de data centers poderia aumentar 160% até 2030.
O TikTok, popular aplicativo chinês de vídeos curtos, anunciou a construção de seu primeiro data center na América Latina, que será instalado no Complexo do Pecém, no Ceará. O investimento deve movimentar aproximadamente R$ 200 bilhões nos próximos anos, segundo estimativas de autoridades do governo federal e da própria empresa.
Neste caso segundo o Tik Tok, a energia prometida será 100% renovável, especificamente energia eólica, não gerando impacto ambiental.
O custo da energia para alimentar 1 MW contínuo ao longo do ano seria: considerando o custo da energia de R$ 180/MWh, então 1 MW operando full-time consome:1 MW × 8.760 h/ano = 8.760 MWh × R$ 180/MWh resultaria aproximadamente R$ 1,58 milhão/ano por MW de carga contínua.
Para um data center de 300 MW o custo de energia seria de R$ 475 milhões, ou seja, cerca de U$S 95 milhões por ano.
Outros grandes consumidores de energia são os fabricantes de alumínio. A fabricação de alumínio primário é dominada por um único fator de custo que supera, por ampla margem, todos os demais que é o consumo de energia elétrica no processo de eletrólise. Em praticamente todos os países, incluindo grandes players globais como China, Canadá, Austrália e Brasil, a eletricidade representa 50% do custo total de produção — podendo chegar a mais de 60% em regiões com tarifas elevadas ou baixa disponibilidade de energia firme.
O Brasil é um grande exportador de alumínio, com fortes vendas para países como Canadá, Noruega e EUA, gerando superávit comercial, embora as exportações tenham flutuado, com quedas recentes devido às incertezas e tarifas (especialmente dos EUA), mas o mercado internacional continua sendo um foco estratégico, com diversos produtos indo do metal primário a bens manufaturados, como chapas e utensílios.
O Brasil importa energia elétrica — não como sinal de insuficiência estrutural, mas como mecanismo racional de gestão do sistema, arbitragem econômica e integração regional.
O Paraguai detém 50% de Itaipu, mas consome apenas parte da energia à qual tem direito, o excedente é comprado pelo Brasil.
Tecnicamente, esse processo é considerado tanto importação (do excedente paraguaio) quanto cogeração compartilhada, dada a bilateralidade do empreendimento.
Brasil realiza também exportações, movimentando fluxos bilaterais com Paraguai, Argentina, Uruguai e, em menor escala, Chile e Venezuela em situações específicas.
Isto posto, o valor exportado dos fabricantes de alumínio no Brasil grande parte é de energia elétrica, isto significa que estamos exportando energia elétrica através de um produto, por tanto nada mais justo considerar a energia produzida para data centers localizados no exterior seja considerada uma exportação.
Não precisa ser um país vizinho para considerar a venda de energia uma exportação. A escolha do Ceará não parece aleatória: combina proximidade a cabos submarinos o que conecta o Brasil com a China.
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