Thorstein Veblen foi um economista e sociólogo norte-americano de origem norueguesa, nascido em 1857 e falecido em 1929. Ele é uma das figuras mais originais e críticas da chamada “Economia Institucional” — uma vertente que se opõe ao modelo neoclássico de racionalidade individual e equilíbrio de mercado, defendendo que o comportamento econômico deve ser entendido dentro de suas estruturas sociais, culturais e institucionais.

Veblen propõe uma análise sociológica do consumo e da estratificação social.

Para ele, o homo economicus — esse agente racional que busca maximizar utilidade — é uma construção irreal, incapaz de descrever o comportamento humano em sociedade.

O indivíduo é moldado por hábitos, instituições, símbolos e valores sociais. Assim, a economia deve ser vista como um processo evolutivo, não como um sistema estático de equilíbrios.

Ele argumenta que, nas sociedades capitalistas, as elites não consomem apenas para satisfazer necessidades, mas para exibir status e prestígio social com gasto ostensivo de bens e serviços para demonstrar riqueza e posição social (por exemplo, roupas de grife, carros de luxo, eventos sociais caros).

Esses comportamentos, segundo Veblen, são irracionais do ponto de vista econômico, mas socialmente poderosos, pois estruturam o desejo e o padrão de vida das classes inferiores, que passam a imitá-los.

Veblen também foi um dos primeiros intelectuais a analisar criticamente a corporalizarão da economia, ele distingue entre a economia industrial – guiada pela eficiência técnica, pelo saber dos engenheiros e pela produção útil – e a economia dos negócios – guiada pela busca de lucro, manipulação de preços e especulação financeira.

Sua posição reflete uma crítica ao capitalismo como sistema que frequentemente sacrifica o progresso tecnológico e o bem-estar social em favor da acumulação de riqueza e poder privado.

Exemplificando, recentemente o italiano Salvatore Garau produziu uma escultura invisível vendida pelo equivalente a R$ 87 mil, o comprador tem um suporte sem nada por cima. Garau disse: “não vendi o nada, mas um vácuo cheio de energia”.

Thorstein Veblen é, de fato, um autor cuja leitura se torna cada vez mais atual quando refletimos sobre ESG (Environmental, Social and Governance).

Embora tenha escrito no final do século XIX e início do XX, sua crítica à cultura do consumo, ao papel das corporações e à lógica predatória do capitalismo moderno antecipa, com impressionante lucidez, muitos dos dilemas éticos, ambientais e institucionais que o movimento ESG busca enfrentar hoje.

Veblen identificou o consumo conspícuo como um comportamento central da sociedade capitalista — um consumo voltado à exibição de status e não à utilidade.

Na economia moderna, essa lógica se sofisticou e transformou-se em ostentação moral, isto é, o desejo de mostrar-se ético, sustentável, consciente.

Assim, empresas e consumidores adotam práticas e produtos “verdes” muitas vezes menos por convicção ambiental do que por reconhecimento simbólico. Esse fenômeno, que poderíamos chamar de “consumo ESG conspícuo”.

O consumo ESG conspícuo refere-se à prática de adquirir e exibir publicamente produtos ou serviços que ostentam atributos de sustentabilidade (Ambiental, Social e Governança), principalmente para demonstração de status social e riqueza, em vez de ser motivado por uma genuína preocupação com os impactos socioambientais.

Alguns exemplos são: a compra de um carro elétrico de luxo e alto desempenho, onde a marca e o preço elevado são tão importantes quanto a propulsão elétrica, a preferência por roupas de grife feitas com materiais “sustentáveis” e certificações caras.

Nas empresas temos o “greenwashing” corporativo, multiplicam relatórios ESG e campanhas de sustentabilidade sem que isso altere significativamente seu modelo de negócios ou suas cadeias produtivas. Veblen diria que tais práticas expressam a estética do progresso moral, não o progresso real — um mecanismo institucional de legitimação e status.

Esse conflito é extraordinariamente relevante para o debate ESG contemporâneo.

Muitas corporações vivem uma tensão análoga: por um lado, o discurso e a estrutura de governança que buscam incorporar práticas responsáveis; por outro, as pressões financeiras de curto prazo que reforçam a maximização do lucro e o valor ao acionista.

Aplicado ao ESG, isso significa que o movimento só se tornará efetivo quando for internalizado como hábito social e moral, e não apenas como protocolo regulatório.

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