1. INTRODUÇÃO:
Neste ano (2024) completo 60 anos de vida profissional e acadêmica, presenciei diversas crises econômicas desde que iniciei a trabalhar no ano de 1964, aos 17 anos de idade. Tivemos cerca de 14 crises, vários planos econômicos, inflação de 1.972% ao ano, juros americanos de 21,5% ao ano, e mesmo assim sobrevivemos. Quero compartilhar esta travessia com você caro leitor.
As crises econômicas são eventos complexos que podem ter várias causas inter-relacionadas e é importante destacar que elas geralmente resultam de uma combinação de fatores, e circunstâncias específicas que podem variar em cada caso. Além disso, as respostas políticas e as medidas tomadas pelos governos e instituições financeiras desempenham um papel crucial na mitigação ou agravamento das crises.
As crises que presenciei:
• Choque do petróleo – 1973.
• Choque do petróleo – 1979.
• Moratória Mexicana – 1982.
• O susto de 1987 (Segunda Feira Negra) – Down Jones cai 22,6%.
• O efeito tequila – 1994.
• A crise asiática – 1997.
• A crise Russa – 1998.
• Estouro da bolha – 1999.
• Os ataques terroristas – 2001.
• O efeito tango – 2001/2002.
• A crise do subprime e quebra do Lehman Brothers – 2008.
• Rebaixamento da nota dos títulos dos EUA – 2011.
• COVID 19 – 2020.
• Guerra da Rússia com a Ucrania – 2022.
Podemos verificar, pelas crises detalhadas acima, que nos últimos 50 anos tivemos cerca de uma crise a cada 4 anos e é bom que os executivos financeiros e empresários estejam preparados para as próximas crises.
2. A CRISE DO PETRÓLEO DE 1973
Foi um evento crucial na história econômica, com impactos significativos em todo o mundo.
A crise teve origem na Guerra do Yom Kippur, um conflito entre Israel e os países árabes, liderados pelo Egito e Síria, em retaliação ao apoio dos Estados Unidos da América (EUA) a Israel. Os países membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), principalmente os árabes, decidiram reduzir a produção de petróleo e impor um embargo contra os países que apoiavam Israel, incluindo os EUA.
Como resultado do embargo, os preços do petróleo dispararam. O preço do barril quadruplicou em poucos meses, passando de cerca de US$ 3 para mais de US$ 12.
O aumento súbito nos preços causou um choque econômico global e os países industrializados, em particular, viram-se diante de custos de energia muito mais elevados e contribuíram para uma inflação significativa em muitas economias. Isso ocorreu porque o petróleo é uma matéria-prima essencial em muitos setores econômicos, e o aumento nos custos de energia se refletiu nos preços de diversos bens e serviços.
O aumento dos custos de produção e o impacto da inflação levaram a uma desaceleração econômica em várias partes do mundo e muitos países enfrentaram recessão e desemprego, além disso, tiveram que reavaliar suas políticas energéticas. Houve um aumento do interesse em fontes de energia alternativas e implicações geopolíticas duradouras, com alguns países buscando formas de reduzir sua dependência do petróleo do Oriente Médio. Além disso, a influência dos países membros da OPEP aumentou no cenário global.
Houve um fortalecimento na posição da OPEP como um ator significativo no mercado global de petróleo. Os países membros ganharam poder de negociação e influência no cenário internacional.
Tiveram repercussões de longo prazo na forma como os países lidaram com questões energéticas e nas dinâmicas geopolíticas relacionadas aos recursos naturais.
Os países produtores de petróleo, com o aumento dos preços passaram a lucrar ainda mais e tiveram um aumento contínuo do fluxo de caixa. Com o excesso de dólares surgiu a reciclagem de petrodólares.
Como muitas nações não eram tão desenvolvidas ou expandidas, começaram a fazer o uso das moedas (petrodólares) dentro do setor financeiro internacional. A consequência dessa ação foi o aumento da liquidez dentro do mercado. Foi nesta época que sugiram grandes projetos, no Brasil, como a Usina de Itaipu, Nuclebrás, expansão das siderúrgicas, ponte Rio-Niterói e outros. Nesta época eu estava na Siderbrás e tomávamos recursos para a expansão da CSN, COSIPA e USIMINAS.
Nossa dívida externa, que era de US$ 3 bilhões em 1964, chegaria aos US$ 100 bilhões em 1987. Um legado que atormentou o país nos anos seguintes.
Com relação da necessidade de diversificação das fontes de energia, em 1975, foi criado o Proálcool, sendo oferecidos vários incentivos fiscais e empréstimos bancários com juros abaixo da taxa de mercado para os produtores de cana-de-açúcar e para as indústrias automobilísticas que desenvolvessem carros movidos a álcool.
3. O CHOQUE DE PETRÓLEO DE 1979
Foi outro episódio significativo que afetou os preços e o fornecimento global de petróleo. Esse evento teve como causas a revolução no Irã, que culminou na queda do Xá Mohammad Reza Pahlavi em 1979 e na instauração da República Islâmica. Durante a revolução, a produção de petróleo do Irã foi interrompida, reduzindo a oferta global.
A invasão do Afeganistão pelas forças soviéticas também contribuiu para a instabilidade geopolítica na região do Golfo Pérsico. Isso levou a preocupações sobre a segurança do fornecimento de petróleo e contribuiu para a tensão nos mercados.
A produção de petróleo do Irã foi significativamente reduzida durante a Revolução Iraniana. Os trabalhadores do setor de petróleo fizeram greve, e a produção diminuiu substancialmente.
Após a Revolução, o Irã suspendeu as exportações de petróleo para os países ocidentais, incluindo os EUA. O declínio na produção iraniana e as preocupações com a segurança do fornecimento global levaram a um novo aumento nos preços do petróleo. Os preços mais que dobraram em um curto período.
Assim como no choque de 1973, os altos preços do petróleo contribuíram para a inflação e desaceleração econômica em muitos países, impactando os custos de produção e os gastos do consumidor.
O choque de petróleo de 1979 também incentivou muitos países a buscarem opções de diversificação energética, promovendo fontes de energia alternativas e eficiência energética.
As mudanças nos mercados de petróleo afetaram as relações geopolíticas, com realinhamentos nas alianças e nas políticas externas.
Em resumo, o choque de petróleo de 1979 foi mais um capítulo que destacou a sensibilidade da economia global aos eventos geopolíticos no Oriente Médio e influenciou decisivamente as políticas energéticas e econômicas em muitos países.
4. A MORATÓRIA MEXICANA DE 1982
Refere-se a um evento econômico que afetou o México e teve implicações significativas para a economia global. Esta crise financeira resultou na suspensão do pagamento da dívida externa pelo México.
Durante a década de 1970, o México acumulou uma grande quantidade de dívida externa devido a empréstimos significativos tomados no mercado internacional para financiar projetos de desenvolvimento e enfrentar déficits orçamentários.
Em meados da década de 1980, as taxas de juros internacionais começaram a subir, o que aumentou significativamente o custo do serviço da dívida para os países endividados, incluindo o México.
A queda nos preços do petróleo durante a crise do petróleo da década de 1980 impactou adversamente a economia mexicana. O México é um exportador de petróleo, e a redução nos preços teve um impacto significativo nas receitas de exportação do país.
Para manter a estabilidade do câmbio e lidar com a crise, o governo mexicano decidiu desvalorizar o peso mexicano em relação ao dólar dos EUA.
Em 12 de agosto de 1982, o governo mexicano, liderado pelo presidente José López Portillo, anunciou a suspensão unilateral do pagamento da dívida externa. Isso teve um impacto imediato nos mercados financeiros internacionais.
A Moratória Mexicana gerou uma onda de choque nos mercados financeiros internacionais, levando a uma crise da dívida em vários países em desenvolvimento. Investidores e instituições financeiras começaram a ficar preocupados com o risco de crédito de outros países endividados.
A economia mexicana entrou em uma profunda recessão. Houve uma queda acentuada na produção econômica, e o desemprego aumentou significativamente, o México teve que implementar reformas econômicas e políticas para lidar com a situação. Isso incluiu políticas de austeridade, liberalização econômica e negociações com credores internacionais.
O México buscou acordos de reestruturação da dívida com seus credores internacionais para lidar com o serviço da dívida de maneira mais sustentável.
Durante a década de 1970, como vimos acima, o Brasil aproveitou a abundância de crédito para realizar um grande plano de investimentos. A crença na continuidade das condições favoráveis e no aumento dos fluxos de comércio internacional deixou o país vulnerável. A elevação do serviço da dívida em decorrência do aumento da taxa de juros e a dificuldade na obtenção de divisas devido a diminuição das exportações levou a uma séria crise de liquidez.
Desse modo, o Brasil decretou moratória contra os credores internacionais, com o desenrolar da crise da dívida externa latino-americana deflagrada pela moratória do México.
A partir daí passou-se para acordos com a comunidade internacional com:
Novos empréstimos em moeda (New Money) com o “Credit and Guaranty Agreement” (CGA) em 25 de fevereiro de 1983 – 4,4 bilhões de dólares envolvendo 173 instituições internacionais (Projeto 1).
“Deposit Facility Agreement (DFA)” – depósito em moeda nacional em contas do Banco Central em nome dos credores para amortização em 8 anos, com carência de dois anos e meio – 4,3 milhões e 660 credores participantes.
Linhas de Crédito Comercial (Trades Lines) – Garantia de crédito para o comércio internacional brasileiro – 10,4 bilhões e participação de 174 bancos.
Linhas de crédito interbancário – Provimento de recursos para as agências bancárias brasileiras do exterior. – 6 bilhões de dólares, com a participação de 260 bancos.
Nesta época estava na Cia. Siderurgica de Tubarão com dificuldades de aprovar guias de importação de equipamentos e matéria prima, e durante a operação da usina dificuldades na obtenção de ACCs, ACEs, vitais para o caixa da empresa.
Para piorar o cenário, em junho de 1981, o Federal Reserve, o banco central americano, fez aquilo que hoje parece impossível. A instituição elevou a taxa de juros americana para 21,5% ao ano, em um dos momentos mais dramáticos da economia mundial.
Aqui no Brasil, no ano de 1986 no Governo do José Sarney e do ministro Dilson Funaro, tivemos o Plano Cruzado I e II. O plano baseava-se na neutralização do fator inercial de inflação, associada ao congelamento de preços e salários.
O nome formal do ajuste era Plano de Estabilização Econômica (PEE). O governo congelou todos os preços da economia por tempo indeterminado e trocou todo o dinheiro em circulação em cruzeiros por uma nova moeda, o cruzado. Cada cruzado valia 1 mil cruzeiros.
Apesar de controlar a inflação, as primeiras medidas do Plano Cruzado elevaram a demanda de forma que houvesse escassez de produtos para o consumo. O segundo Plano Cruzado é lançado em novembro do mesmo ano como um conjunto de medidas para estimular a poupança e reajustar os preços.
O Plano Cruzado teve como resultado uma deterioração na balança de pagamentos do país com a consequente queda nas reservas internacionais. Sem condições para honrar os compromissos externos, o Brasil teve que decretar a moratória da dívida externa em 1987.
Ainda no Governo de José Sarney houve mais três planos nos anos de 1987, 1988 e 1989, que são, Plano Bresser (autor Luiz Carlos Bresser Pereira), Plano Feijão com Arroz e Plano Verão (autor Maílson da Nóbrega) respectivamente.
Em 1990 e 1991 tivemos o Plano Collor I e II, no Governo de Fernando Collor de Mello anunciado pela Ministra Zélia Cardoso de Mello, este pacote econômico tinha o objetivo de controlar a hiperinflação da época, que chegou a 1.972% ao ano em 1989. Consistiu basicamente em: 80% de todos os depósitos do overnight, das contas correntes ou das cadernetas de poupança que excedessem a NCz$ 50mil (cruzado novo) foram congelados por 18 meses, recebendo durante esse período uma rentabilidade equivalente a taxa de inflação mais 6% ao ano, a medida foi chamada de Confisco da poupança
Substituição da moeda corrente, o cruzado novo, pelo cruzeiro à razão de NCz$ 1,00 = Cr$ 1,00.
Foram congelados preços e salários, sendo determinado pelo governo, posteriormente, ajustes que eram baseados na inflação esperada.
Nesta época estava na D´Agranja no Paraná, uma empresa ligada ao agro (frango).
Alguns meses antes da decretação do Plano Collor, com a geração de caixa, que tínhamos, compramos grandes quantidades de milho e soja, para ração. Como havia uma incerteza de quem ganharia a eleição presidencial, Lula ou Collor, compramos ouro também. Quando foi decretado o plano, o dinheiro sumiu do mercado, como estávamos estocados continuamos a produção normalmente e como nosso faturamento era todo a vista e fracionado o caixa continuou estável. Depois da eleição o ouro dobrou de preço na realidade em consequência da guerra do Golfo. Realizamos o lucro com a venda do ouro que proporcionou a compra de uma outra unidade de produção.
5. O “SUSTO DE 1987”, TAMBÉM CONHECIDO COMO “SEGUNDA-FEIRA NEGRA”
Foi um evento marcante nos mercados financeiros que ocorreu em 19 de outubro de 1987. Nesse dia, o índice Dow Jones Industrial Average (DJIA), que é um importante indicador do desempenho das ações nas bolsas de valores dos EUA, sofreu uma queda dramática de 22,6%.
Nos anos que antecederam 1987, os mercados de ações, especialmente nos EUA, haviam experimentado uma rápida valorização. O otimismo dos investidores levou a avaliações de mercado elevadas.
A introdução de instrumentos financeiros inovadores, como opções de venda (put options) e programas de negociação automatizada, criou um ambiente em que as reações de venda podiam ser ampliadas.
Diversos eventos econômicos e políticos, incluindo preocupações com o déficit comercial dos EUA, a política monetária, tensões geopolíticas e outros fatores, contribuíram para um clima de incerteza nos mercados financeiros.
O evento culminante ocorreu em 19 de outubro, quando os mercados enfrentaram uma venda massiva de ações. O DJIA caiu 508 pontos, representando uma queda percentual de 22,6%, marcando a maior queda percentual em um único dia na história do índice.
A intensidade da queda levou a um pânico generalizado entre os investidores. Muitos estavam preocupados com a possibilidade de uma repetição da Grande Depressão de 1929.
Investidores sofreram perdas substanciais devido à rápida desvalorização do mercado de ações. Muitos fundos de investimento, instituições financeiras e investidores individuais foram impactados.
O “Susto de 1987” levou a uma revisão das práticas de negociação e à implementação de medidas para evitar quedas tão acentuadas nos mercados financeiros. Isso incluiu ajustes nos mecanismos de circuit breaker para interromper temporariamente as negociações em situações de grande volatilidade, houve uma revisão significativa dos sistemas de negociação e dos instrumentos financeiros utilizados. Os reguladores buscaram maneiras de melhorar a estabilidade e a segurança dos mercados.
Muitas instituições financeiras implementaram medidas de gerenciamento de risco e controles mais rigorosos para evitar quedas abruptas nos mercados.
Embora o “Susto de 1987” tenha sido uma experiência traumática para os investidores, os ajustes e as reformas implementadas posteriormente ajudaram a fortalecer os sistemas financeiros e a evitar eventos semelhantes em larga escala nas décadas seguintes.
6. O TERMO “EFEITO TEQUILA”
Diz respeito a uma crise financeira que atingiu o México em 1994 e teve impactos significativos em outras economias da América Latina. Essa crise foi desencadeada por uma série de fatores, incluindo problemas econômicos e cambiais no México.
Antes da crise, o México manteve uma política de taxa de câmbio fixa, ancorando o peso mexicano ao dólar americano. No entanto, a crescente preocupação com a sustentabilidade dessa política levou a uma desvalorização do peso mexicano.
Em 1994, os EUA aumentaram suas taxas de juros para combater a inflação. Isso atraiu investidores para os títulos do Tesouro dos EUA, resultando em uma retirada significativa de capitais de países emergentes, incluindo o México.
O México enfrentou problemas fiscais, incluindo déficits orçamentários e dívida pública crescente. A pressão sobre as reservas cambiais mexicanas aumentou, tornando a manutenção da taxa de câmbio fixa insustentável.
O assassinato de Luis Donaldo Colosio, candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI) à presidência do México, em março de 1994, gerou incerteza política e econômica adicional.
Em 20 de dezembro de 1994, o governo mexicano foi forçado a abandonar a política de taxa de câmbio fixa, permitindo a desvalorização do peso mexicano em relação ao dólar, gerando um impacto imediato nos mercados financeiros globais. Investidores entraram em pânico, e houve uma onda de vendas de ativos em diversos países da América Latina, resultando em uma crise financeira no país. Houve uma fuga de capitais, aumento da inflação e uma recessão econômica.
O Efeito Tequila se espalhou para outros países da América Latina, afetando as moedas, os mercados financeiros e as economias em geral. Países como Argentina e Brasil também enfrentaram desafios econômicos significativos, o México buscou ajuda financeira internacional. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e os EUA forneceram um pacote de resgate para estabilizar a economia mexicana que levou o México a implementar reformas econômicas, incluindo medidas para fortalecer o sistema financeiro, melhorar a transparência e buscar políticas fiscais mais sólidas.
O Efeito Tequila teve um impacto duradouro na confiança dos investidores em relação aos mercados emergentes. Muitos investidores passaram a ser mais cautelosos em relação aos riscos associados a essas economias e destaca a interconexão das economias globais e como problemas em um país podem ter efeitos significativos em outras partes do mundo.
Neste ano, no Governo Itamar Franco tendo como Ministro da Economia Fernando Henrique Cardoso, foi lançado o Plano Real, quando foram implantadas as medidas que conseguiram estabilizar a economia brasileira e colocar fim à crise de hiperinflação que atingia o país desde a década de 1980.
7. A CRISE ASIÁTICA DE 1997
Foi um acontecimento econômico que afetou severamente vários países do Sudeste Asiático no final da década de 1990. A crise teve origens em fatores econômicos, financeiros e estruturais específicos dessas nações.
Muitos dos países afetados pela crise experimentaram um rápido crescimento econômico nas décadas anteriores, impulsionado por investimentos estrangeiros, especialmente em setores imobiliários e financeiros. Isso levou ao superinvestimento e à formação de bolhas financeiras.
Os setores financeiros desses países cresceram descontroladamente, com expansão rápida dos empréstimos e investimentos. A falta de regulamentação e a má gestão contribuíram para a vulnerabilidade desses sistemas financeiros.
Alguns países da região optaram por vincular suas moedas ao dólar dos EUA, uma prática que se tornou insustentável devido a mudanças nas condições econômicas globais e à apreciação do dólar.
A queda nas exportações e o aumento das dívidas externas levaram a uma pressão sobre as moedas nacionais. Quando especuladores perceberam a insustentabilidade das taxas de câmbio fixas, houve ataques especulativos contra as moedas locais.
A crise teve início na Tailândia em julho de 1997, quando o governo foi forçado a abandonar a fixação da moeda local, o baht, em relação ao dólar dos EUA. A desvalorização do baht desencadeou uma onda de pânico nos mercados financeiros, levando a ataques especulativos contra as moedas de outros países asiáticos, incluindo Indonésia, Malásia, Filipinas e Coreia do Sul.
Os sistemas financeiros desses países entraram em colapso, com bancos e instituições financeiras enfrentando dificuldades. Muitos desses países foram forçados a buscar ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) para lidar com a crise.
O FMI forneceu pacotes de resgate financeiro a alguns países afetados para ajudá-los a estabilizar suas economias. No entanto, esses programas muitas vezes envolveram medidas rigorosas de austeridade, o que contribuiu para agravar os problemas econômicos em curto prazo.
Muitos países a implementarem reformas econômicas e financeiras para corrigir as fraquezas estruturais. Isso incluiu a melhoria da regulamentação financeira, a flexibilização das taxas de câmbio e a reformulação de políticas econômicas.
A confiança dos investidores em mercados emergentes foi abalada, levando a uma reconsideração dos riscos associados a investimentos nessas regiões.
8. A CRISE FINANCEIRA RUSSA DE 1998
Foi um fato significativo que afetou a Rússia e teve impactos consideráveis nas economias globais. A crise teve origens em fatores econômicos, financeiros e políticos internos, combinados com condições econômicas globais adversas.
Uma das causas centrais foi a desvalorização abrupta do rublo russo. O governo russo manteve uma política de câmbio fixo, ancorando o rublo ao dólar americano. No entanto, em meio a uma série de fatores, incluindo queda nos preços das commodities, saída de capital e pressão externa, o Banco Central russo foi forçado a desvalorizar o rublo em agosto de 1998 e decretar uma moratória, que inicialmente teria 90 dias de interrupção nos pagamentos externos.
A Rússia enfrentou sérios problemas fiscais, incluindo déficits orçamentários e altos níveis de dívida pública. A incapacidade do governo em lidar com esses desafios contribuiu para a tensão.
A crise foi agravada também pela retomada dos confrontos na Chechênia e o início de uma nova guerra entre os separatistas e o governo russo.
A queda nos preços das commodities, incluindo o petróleo, que é uma importante fonte de receita para a Rússia, agravou os problemas econômicos do país que enfrentou uma significativa fuga de capitais, com investidores retirando seus ativos do país devido a preocupações com a estabilidade econômica e política.
Houve um impacto imediato nos mercados financeiros globais. As bolsas de valores caíram, e houve uma reação em cadeia em outros mercados emergentes, resultou também em uma alta taxa de inflação e uma profunda recessão na economia russa. O PIB contraiu-se significativamente, e o desemprego aumentou.
A desvalorização do rublo e a moratória levaram ao colapso do sistema financeiro russo. Bancos enfrentaram dificuldades financeiras e muitos tiveram que fechar suas portas.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros credores internacionais forneceram pacotes de resgate financeiro à Rússia para ajudar a estabilizar a economia. No entanto, os termos desses pacotes eram frequentemente associados a medidas de austeridade impopulares que forçou a Rússia a implementar reformas econômicas para estabilizar a situação, incluindo a reformulação de políticas fiscais, monetárias e estruturais, além de afetar as relações internacionais da Rússia e influenciar a forma como o país interagiu com os mercados financeiros globais.
9. ESTOURO DA BOLHA 1999
Não há um consenso claro sobre o conhecido “estouro da bolha” que ocorreu em 1999 nos EUA, pois esse período foi marcado por várias bolhas em diferentes mercados financeiros e setores da economia. Entretanto, muitas vezes, quando se menciona o “estouro da bolha” nesse contexto, está se referindo ao estouro da bolha das empresas ponto-com no setor de tecnologia e internet.
A chamada “bolha ponto-com” foi caracterizada por uma especulação excessiva e valorizações irrealistas das ações de empresas relacionadas à internet e tecnologia. Muitas dessas empresas tinham avaliações astronômicas, embora muitas delas não tivessem lucros substanciais e, em alguns casos, nem mesmo receitas significativas. Investidores estavam entusiasmados com o potencial da “nova economia” baseada na internet, e isso levou a uma bolha especulativa.
Muitas empresas ponto-com experimentaram valorizações extraordinárias, com suas ações atingindo níveis exorbitantes em relação às métricas tradicionais de avaliação, como relação preço/lucro, realizaram também ofertas públicas iniciais (IPOs) com grande entusiasmo do mercado, mesmo que muitas delas não fossem lucrativas.
Em 2000 e 2001, a bolha ponto-com estourou dramaticamente. As ações de muitas empresas de tecnologia e internet despencaram, levando a grandes perdas para investidores e contribuindo para uma recessão econômica nos EUA.
Muitas empresas faliram como resultado da queda abrupta do valor de suas ações, incapazes de sustentar seus modelos de negócios sem o apoio contínuo do mercado de capitais.
O estouro da bolha teve um impacto significativo no ecossistema de startups, com muitas empresas fechando as portas. Investidores, especialmente aqueles que compraram ações no auge da bolha, sofreram grandes perdas.
Após o estouro da bolha, houve uma recuperação gradual e sustentável do mercado de tecnologia, com empresas mais estáveis emergindo e implementando modelos de negócios mais viáveis.
10. OS ATAQUES TERRORISTAS DE 11 DE SETEMBRO DE 2001
Foram uma série de ataques coordenados pela organização terrorista al-Qaeda contra os EUA. Esses ataques tiveram um impacto profundo não apenas nos EUA, mas também em todo o mundo, moldando as relações internacionais e desencadeando eventos significativos.
Na manhã de 11 de setembro de 2001, 19 terroristas sequestraram quatro aviões comerciais nos EUA. Dois dos aviões foram direcionados para as Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova York. Ambas as torres desmoronaram em poucas horas devido aos danos causados pelos impactos e incêndios. Um terceiro avião atingiu o Pentágono em Arlington, Virgínia.
O quarto avião, o Voo 93 da United Airlines, foi sequestrado, mas os passageiros a bordo enfrentaram os sequestradores, resultando na queda da aeronave em um campo na Pensilvânia. Acredita-se que o alvo pretendido era Washington, D.C.
Cerca de 3.000 pessoas perderam a vida nos ataques, tornando-o o pior ataque terrorista na história.
Além das perdas humanas, houve impactos econômicos significativos devido à destruição das Torres Gêmeas, à interrupção dos mercados financeiros e às medidas de segurança subsequentes.
O governo dos EUA respondeu imediatamente, implementando medidas de segurança, evacuando áreas afetadas e iniciando esforços de resgate e recuperação.
Os ataques levaram os EUA a lançarem a “Guerra ao Terror”, que incluiu invasões no Afeganistão para depor o regime do Talibã, que estava abrigando Osama bin Laden, líder da al-Qaeda.
O governo reorganizou suas agências de segurança interna e criou o Departamento de Segurança Interna em 2003 para melhor coordenar esforços de combate ao terrorismo.
Foram promulgadas várias leis, como o USA PATRIOT Act, para expandir os poderes de investigação e vigilância do governo em nome da segurança nacional.
Houve uma revisão significativa nos procedimentos de segurança em aeroportos e aeronaves em todo o mundo, com implementação de medidas mais rigorosas.
Os ataques de 11 de setembro representam um marco na história contemporânea, alterando significativamente as dinâmicas geopolíticas, a segurança global e a resposta internacional ao terrorismo.
11. O EFEITO TANGO 2001/2002
A partir de 19 de dezembro de 2001, na Argentina iniciam-se as manifestações populares conhecidas como panelaço a favor do impeachment, que terminaram com a renúncia do presidente De la Rúa. Durante o dia, em diferentes pontos do país, com epicentro em Buenos Aires, graves distúrbios e revoltas sociais ocorrem.
Houve conflitos com a polícia, sendo os mais violentos os que ocorrem nas imediações da Casa Rosada, na capital, ao menos 5 pessoas morreram no embate com a polícia. Diante dessa situação, o presidente decide decretar estado de sítio, que suspende as garantias constitucionais dos cidadãos. O anúncio é realizado em cadeia nacional pelo próprio presidente. Espontaneamente milhares de argentinos vão às ruas batendo panelas, decepcionados com as recentes medidas civis e econômicas.
Esta convulsão criou o chamado “O efeito tango” e afetou as empresas europeias, principalmente as espanholas, portuguesas e francesas, que estavam acompanhando o desenrolar da crise, amargaram pesados prejuízos e seus acionistas europeus começaram a fugir, com receio de perdas maiores. O efeito afetou a Bolsa de Madri, de Paris, da Inglaterra, isso sem contar o Índice Dow Jones e o Nasdaq, nos Estados Unidos.
Os investidores preocupados, de olho na Argentina, onde, por exemplo, a Telefónica de Espanha injetou US$ 24 bilhões e a Repsol comprou por US$ 15 bilhões a estatal argentina Yacimientos Petroliferos Fiscales.
12. A CRISE DO SUBPRIME E A QUEBRA DO LEHMAN BROTHERS
Em 2008 foram vários eventos que desencadearam uma das piores crises financeiras globais.
A crise teve suas raízes no mercado imobiliário dos Estados Unidos, onde empréstimos hipotecários de alto risco, conhecidos como subprime, foram amplamente concedidos. Esses empréstimos foram frequentemente agrupados e transformados em títulos financeiros complexos chamados de “títulos lastreados em hipotecas” (MBS).
A expansão desenfreada do mercado de crédito e a prática de conceder empréstimos hipotecários a mutuários com históricos de crédito questionáveis levaram a uma bolha imobiliária.
Os juros do Fed, que vinham subindo desde 2004, encareceram o crédito e afastaram compradores, com isso, a oferta começou a superar a demanda e o que se viu foi uma espiral descendente no valor dos imóveis. Com os juros altos, o risco virou realidade.
Quando os preços dos imóveis começaram a cair e os mutuários começaram a enfrentar dificuldades para pagar seus empréstimos, os valores dos MBSs despencaram, resultando em enormes perdas para bancos e instituições financeiras.
O Lehman Brothers, um dos maiores bancos de investimento dos EUA, enfrentou dificuldades significativas devido à exposição substancial aos ativos relacionados ao mercado imobiliário.
Em 15 de setembro de 2008, o Lehman Brothers entrou com pedido de falência, marcando uma das maiores falências da história. Sua falência teve repercussões imediatas e desencadeou um pânico nos mercados financeiros globais, levando a uma falta de confiança entre os bancos e uma paralisação nos mercados interbancários.
Vários bancos em todo o mundo enfrentaram dificuldades de liquidez, e alguns foram resgatados pelos governos para evitar colapsos sistêmicos.
A crise financeira desencadeou uma recessão global, com queda no crescimento econômico, aumento do desemprego e uma série de desafios econômicos e sociais.
Os governos em todo o mundo responderam com medidas de estímulo econômico, pacotes de resgate para instituições financeiras e reformas regulatórias destinadas a evitar crises semelhantes no futuro.
A crise levou a uma revisão significativa dos regulamentos financeiros. Nos EUA, a Lei Dodd-Frank foi promulgada em 2010 para reformar o setor financeiro e melhorar a supervisão regulatória.
13. REBAIXAMENTO DA NOTA DOS TÍTULOS DOS EUA
Em agosto de 2011, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou a nota de crédito dos EUA da categoria máxima “AAA” para “AA+”. Isso foi um evento significativo, uma vez que os títulos do governo dos EUA, historicamente considerados os mais seguros, perderam a classificação máxima de crédito.
O rebaixamento ocorreu em meio a intensas negociações no Congresso dos EUA sobre o aumento do teto da dívida, que é o limite legal que o governo pode pedir emprestado.
A incapacidade do Congresso de chegar a um acordo sobre o aumento do teto da dívida levou a preocupações de que os Estados Unidos poderiam não cumprir suas obrigações financeiras, resultando em uma possível inadimplência.
A S&P citou a crescente polarização política nos Estados Unidos e a falta de um plano claro para abordar a dívida e o déficit como fatores que contribuíram para a decisão de rebaixamento.
A agência expressou preocupações sobre a sustentabilidade da dívida pública dos EUA e a capacidade do governo de implementar medidas significativas para reduzir o déficit orçamentário.
O rebaixamento teve um impacto imediato nos mercados financeiros globais, causando volatilidade e levando a uma queda nos preços dos ativos.
O governo dos EUA rejeitou a decisão da S&P, questionando a metodologia utilizada pela agência. Alguns analistas e observadores também criticaram o timing do rebaixamento, argumentando que ele poderia ter sido influenciado por considerações políticas.
Apesar do rebaixamento, os títulos do Tesouro dos EUA continuaram sendo amplamente considerados como ativos seguros nos mercados financeiros globais. Outras agências de classificação, como a Moody’s e a Fitch, mantiveram a classificação “AAA” para os títulos dos EUA.
O rebaixamento levou a uma reflexão mais ampla sobre a política fiscal dos Estados Unidos e a necessidade de abordar questões relacionadas à dívida e ao déficit de maneira mais abrangente.
O evento influenciou discussões sobre as práticas das agências de classificação de risco e levou a debates sobre a necessidade de reformas no setor.
Apesar do rebaixamento, os títulos do Tesouro dos EUA continuaram sendo amplamente aceitos nos mercados financeiros globais, e a economia dos Estados Unidos se recuperou gradualmente nos anos seguintes.
14. COVID-19
A pandemia de Covid-19 no Brasil impactou não apenas a saúde humana, mas também outros importantes aspectos da vida social. A economia, a renda e os empregos de uma parcela considerável da população brasileira foram profundamente afetados pelos distúrbios criados pela pandemia, de modo que é urgente pensar em estratégias de proteção aos direitos e fortalecimento das redes públicas de assistência social, para enfrentar as desigualdades.
A pandemia afetou especialmente as micro e pequenas empresas (MPE) no Brasil, com a queda brusca na demanda, interrupção das atividades e, eventualmente, o fechamento definitivo de diversos empreendimentos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que durante a primeira onda da doença, até junho de 2020, 716.372 empresas encerraram suas operações, sendo 99,8% delas de menor porte. Esse impacto resultou em uma perda expressiva de estoque de capital.
Em novembro de 2020, 27,8% das crianças das regiões Norte e Nordeste, as mais pobres do país, não estavam matriculadas ou não tinham acesso às atividades escolares.
O isolamento social promoveu rápidas mudanças no mercado de trabalho, com impactos mais severos para 37,3 milhões de pessoas que vivem na informalidade, já que elas não têm direitos como Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e seguro-desemprego. Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as primeiras demissões ocorreram entre aqueles que vivem do trabalho precário, como terceirizados, balconistas, garçons, funcionários de cozinha, diaristas, manipuladores de bagagem e produtos de limpeza.
Um dos setores mais afetados pela crise foi o turismo, que sofreu impactos diretos, com forte retração nas suas atividades.
Estima-se que os passivos governamentais tenham fechado o ano passado em US$ 88 trilhões devido a gastos extraordinários para o enfrentamento da pandemia. O caso extremo é o Japão, com 255,2% do Produto Interno Bruto (PIB) seguido pela Itália (143,7%), EUA (123,3%), França (110%) e Reino Unido (104,1%).
15. A GUERRA DA RÚSSIA COM A UCRÂNIA.
Teve início em fevereiro de 2022, foi motivada pelo avanço da Otan no Leste Europeu e por questões geopolíticas entre os dois países envolvidos. Interesses territoriais, culturais e econômicos motivaram a invasão da Ucrânia promovida pela Rússia, e causaram impactos econômicos significativos, tanto para a Ucrânia quanto para os países envolvidos e a comunidade internacional em geral.
As tensões entre a Rússia e países ocidentais levaram à imposição de sanções econômicas, afetando o comércio e os investimentos entre esses países. As sanções tiveram impacto negativo na economia russa e em outros países envolvidos que resultou em restrições comerciais e interrupções nas cadeias de suprimentos, afetando as empresas e as atividades econômicas regionais, contribuiu para a volatilidade nas moedas da região, afetando as taxas de câmbio e a confiança dos investidores.
A incerteza geopolítica associada ao conflito cria um ambiente de investimento mais arriscado, afetando o fluxo de investimentos estrangeiros diretos na região.
A instabilidade na Ucrânia teve impacto no setor agrícola, que é uma parte significativa da economia do país. Isso inclui a interrupção das atividades agrícolas e as consequências das mudanças nos padrões de propriedade de terras.
A Ucrânia tem trânsito de gás natural para a Europa. Disputas relacionadas ao fornecimento de gás afetaram o setor energético e a estabilidade econômica, causando mudanças na matriz energética de alguns países com reflexos nos índices inflacionários.
Para concluir os executivos devem ficar atentos com as possíveis próximas crises, estamos vivenciando duas guerras, que podem causar mais tenções comerciais e tarifárias. As eleições para Presidência no EUA é outro ponto de atenção podendo causar muita volatilidade. Internamente temos incerteza no campo fiscal, a taxa de juros dependerá dos dados americanos e da resposta do Fed.
Veja mais artigos sobre Economia clique aqui